A HISTÓRIA DAS FERIDAS
Para que possamos atuar,
não basta apenas conhecermos os novos produtos disponíveis nesta área ou as
últimas descobertas científicas, é preciso conhecer o passado para que possamos
criar um futuro de uma forma mais concreta e precisa. E para que possamos
ilustrar esta evolução vamos apresentar, sistematicamente, algumas práticas
naturais que, há vários milênios, vêm sendo utilizadas e que, muitas delas
foram incorporadas há muitas tecnologias descobertas.
Os homens da
pré-história utilizam plantas e seus extratos como cataplasmas, para estancar
hemorragias e umidificar as feridas abertas. Sendo a Cataplasma um emplasto de
substâncias preparadas com linhaça, massa de argila, farinha de mandioca ou
fubá colocada entre dois panos, com capacidade de absorção das toxinas da pele
e para tratar hematomas.
Por volta de 2700 a.C.
os egípcios utilizavam produtos que, hoje, denominamos “Fármacos da sujeira”,
esses produtos eram derivados de produtos aparentemente absurdos como urina
humana e outros, associados às orações e sacrifícios. Os médicos egípcios
acreditavam que quanto mais a ferida supurava, mais rápida era a cicatrização.
Foram os precursores do
adesivo atual, com a descoberta da ligadura adesiva, que consistia em tiras de
linho impregnado de goma.
Os chineses em 2800 a.C.
foram os primeiros a relatar o uso do mercúrio, os mexicanos e peruanos
utilizavam o Mactellu como anti-sépticos para feridas.
Quando falamos da
civilização Grega, chegamos ao clássico A Ilíada, escrita por
Homero (800 a.C) que descreve o tratamento de 147 feridos militares utilizando
práticas de cauterização de feridas com ferro quente. Nessa época a taxa de
mortalidade era bastante elevada.
Na era Cristã, Celsius
(200 d.C): classificou tipos de ferida, definiu tratamentos, descreveu os
sinais inflamatórios, técnicas de desbridamento e sutura.
No período medieval,
Galeno (século II d.), que era médico do grande imperador Marco Aurélio,
instaurou a teoria da secreção purulenta. Nessa teoria acreditava-se que a
formação da secreção era fundamental para a cicatrização.
Usava na sua
terapêutica:
• Água do mar, do mel,
tinta de caneta e barro.
• As lesões ulceradas
eram ligadas com figos (que contêm Papaína);
• Teia de aranha.
Já os médicos árabes
foram os inventores da ligadura de gesso.
Chegando a era do
Misticismo, temos a Teoria dos Miasmas, nesta teoria os corpos deviam ser
incinerados e após, deveria ser feita à defumação do local com incenso. A
igreja contribuiu, e muito, para a divulgação dessa teoria e proibiu a
dissecação e métodos cirúrgicos impedindo a evolução das técnicas. Já Teodorico
de Lucca e Henri de Mondeville utilizaram pensos embebidos em arnica e vinho
(ação anti-séptica). E observaram que havia diminuição da formação de secreção
e aumento da cicatrização.
Ao relembrarmos a
história do tratamento de feridas não podemos nos esquecer de Hipócrates (300
a.C), considerado o pai da medicina moderna que foi o primeiro a implementar os
princípios da assepsia, no tratamento das feridas.
Não acreditava que a
formação de pus fosse essencial para a cicatrização (teoria que existiu por
séculos) e quando a ferida infeccionava, utilizava emplastos para drenagem de
secreção e que estas deveriam ser lavadas e limpas. Fez uso de ervas
medicinais, mel, leite e vinagre. Aconselhava debridamentos e cauterizações.
Avançando ainda mais na
história, chegamos à Revolução industrial, marco da história mundial. No século
XVIII, alguns prisioneiros se dedicavam à confecção de pensos. Estes eram
feitos de trapos velhos, estopa de linho e corda velha desfiada. Os pensos eram
utilizados e depois lavados e reutilizados, já que este processo tornava-os
mais macios e absorventes.
Com a revolução
industrial aconteceu a mecanização deste processo de confecção.
Infelizmente, com a
evolução dos tempos começaram as guerras locais e mundiais.
Com a guerra da Criméia
deu-se a introdução da pólvora no mundo ocidental. As feridas causadas por
pólvora eram venenosas e era necessária a remoção da parte lesada (amputação) e
para cauterizar o coto era utilizado óleo fervente.
Entretanto, nessa época
houve uma grande escassez de óleo, o que possibilitou a substituição por gema
de ovo e óleo de rosa, o que aumentou a taxa de sobrevida da população.
A EVOLUÇÃO NO
TRATAMENTO DAS FERIDAS
A partir deste século
várias descobertas favoreceram para a melhoria do tratamento das feridas.
Destacamos, brevemente, algumas evoluções principais que impeliram as novas
descobertas atuais neste campo.
• 1676 = descoberta do
microscópio;
• 1752 = primeiro passo
na desinfecção química, por John Pringle, com o uso de ácidos minerais para
prevenir e impedir a putrefação.
• 1860 (Gangee) =
1º curativo absorvente a base de algodão;
• Em 1862, Pasteur
concluiu que a putrefação era resultante da fermentação causada pelo
crescimento dos microorganismos. Descobriu, ainda, que eles eram destruídos
pela ação do calor. Apontou a falta de limpeza como causa da infecção, e que as
pessoas que tratavam as feridas eram meio de transporte para esses
microorganismos.
• Em 1880 = foi
construída com êxito a primeira estufa, vindo permitir a esterilização pelo
calor seco. Dois anos mais tarde surgiu a esterilização pelo vapor.
• No final de 1840:
Deu-se a utilização de anti-sépticos e a proteção da lesão com coberturas
secas. Foi nesta fase que se descobriu o efeito anti-séptico do Iodo, Mercúrio
e Alumínio, além da utilização do meio seco.
• Luvas e máscaras foram
introduzidas em 1890 e 1897, por Willian Hastelde Johann Miculizz.
• 1945: Bloom relata
pela primeira vez o uso do filme transparente permeável ao vapor.
• Após 1960 =
descobertos os princípios de leito úmido e limpo para acelerara cicatrização.
Entre outras descobertas como: limpeza da ferida, aproximação bordas através da
sutura, controle da infecção. Sendo descobertas do antibiótico um dos maiores
feitos desta época.
• A partir de 1980
estudos em larga escala começaram a ser realizados nos Estados Unidos e em
vários países da Europa, visando o aperfeiçoamento das técnicas para realização
dos curativos.
• Em 1982 as coberturas
a base de Hidrocolóides são lançadas nos EUA e Europa, porém somente em 1990
chegaram ao Brasil com elevado custo dificultando o seu uso pela população
brasileira. Apesar de todos estes avanços de tecnologias, produtos e técnicas
para o desenvolvimento do tratamento de feridas, a incidência das úlceras
crônicas em nosso meio ainda é bastante elevada. E embora várias descobertas já
tenham sido feitas ainda existem muito a ser pesquisados e vários mitos a serem
quebrados para aperfeiçoar estes recursos.
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