Para algumas pessoas, olhar-se no espelho é quase
uma tortura.
Mais do que estarem insatisfeitas com a própria
imagem, essas pessoas passam horas pensando na própria aparência, sofrendo com
a autoimagem e procurando soluções para mudar o que as
incomoda.
A angústia é permanente e a vontade de se esconder
substitui a de ser visto. E apesar das tentativas, nenhum procedimento
cirúrgico ou estético é capaz de sanar essa doença social.
Desde a revolução sexual nos anos 70, o corpo é
cada vez mais responsável pela identidade da pessoa. As pessoas chegam com uma
‘lista’ de defeitos para corrigir. Até que ponto isto está de fato melhorando
algo em alguém?. Buscar a correção de fatores estéticos e marcas do tempo
através de uma cirurgia plástica é normal. No entanto, quando a pessoa começa a
querer fazer uma cirurgia plástica atrás da outra e nunca estar feliz com a
aparência pode ser sinal de doença.
Esse vício
da beleza, esconde uma doença psiquiátrica séria, diagnosticada como "Transtorno Dismórfico Corporal"
(TDC). A doença, também é conhecida como dismorfofobia, doença da beleza,
síndrome da distorção da imagem, hipervalorização estética, globalização da
beleza e padronização das formas. Consiste em uma preocupação exagerada e fora
do normal com a reparação de um defeito, na maioria das vezes imaginário.
É um transtorno
psiquiátrico e o diagnóstico é muito difícil, embora
conhecido, é pouco debatido entre os médicos.
O termo 'dismorfofobia' é uma
palavra grega que significa feiura, especialmente na face, utilizado por
Morselli, pela primeira vez, há cem anos; porém, sua primeira referência
aparece na história de Herodotus, no mito da garota feia de Esparta, que era
levada pela sua família, todos os dias, ao templo para se livrar da sua falta
de beleza e atrativos.
Pesquisas recentes mostram que, para tentar aliviar
a eterna insatisfação com a imagem, a população mais vulnerável à enfermidade
recorre cada vez mais a procedimentos estéticos ou cirúrgicos, sem fim.
Resolvido
um “problema”, elas tendem a se concentrar em outro aspecto de sua aparência,
algo que acaba levando essas pessoas a se submeterem a vários procedimentos para
corrigir “imperfeições”.
O primeiro indício ocorre
normalmente no começo da adolescência e se estende até aproximadamente os 20
anos, porque neste período é que vários problemas em relação ao desenvolvimento
facial e corporal ocorrem.
Um estudo descobriu que nos
estágios iniciais da doença, 15% dos pacientes de cosmiatria (tratamentos
dermatológicos e estéticos) tinham a doença, assim como 7% dos de dermatologia,
e a evolução deste estágio é com a procura por algo mais invasivo, as cirurgias
plásticas.
As manifestações variam conforme o gênero, e a preocupação
pode envolver qualquer região do corpo. Na mulher, geralmente é face (acne,
tamanho do nariz, cicatriz, excesso de pêlo, orelhas, queixo e mandíbula),
cabelo, dentes, mamas e nádegas. Para homens, rosto (acne), calvície, dentes,
genitais e músculos. Podem se sentir incomodados com uma região ou também várias partes ao mesmo tempo.
O
dado mais alarmante é que mais de 90% das pessoas com esse transtorno nunca
ficam satisfeitas com os resultados.
Estima-se que 3 a 15% das pessoas com grande
preocupação com a aparência e que buscam tratamentos estéticos, dentários e cirurgia
plástica têm TDC.
Diagnóstico:
Dos primeiros sintomas
até o diagnóstico podem transcorrer entre nove e doze anos. A pessoa passa
horas presa na frente do espelho, sem diagnóstico. O limite entre a implicância
com um defeito e o diagnóstico é tênue.
O ideal é diagnosticar as pessoas com TDC em um
estágio inicial da doença, porque o tratamento é mais fácil. Antes que todos
esses pensamentos e ansiedades cheguem à sua mente.
O
diagnóstico pode ser um desafio, pois na sociedade atual os sintomas são
semelhantes a uma vaidade excessiva.
Uso
exagerado de cosméticos para disfarçar imperfeições, cuidados exagerados com os
cabelos, dietas inconsequentes, bulimia, anorexia, exercícios exagerados, uso
de roupas que escondem o corpo e cirurgias
plásticas em excesso são algumas das características destes
pacientes.
Sua
causa é bastante discutível. Pode ser gerada por uma baixa auto-estima, pode
ser decorrente de uma infância deficiente de carinho e de aprovação, levando a
uma autocrítica destrutiva (reflexo de crítica excessiva dos pais ou pessoas
próximas), de sentimentos de abandono, ou mesmo por causas orgânicas, agravados
pela grande exibição de figuras humanas padronizadas pelos meios de
comunicação.
Com
as perguntas adequadas, é possível que o cirurgião plástico obtenha um “sexto
sentido” para identificar que algo não está bem, e nesses casos, é melhor que
não operem e encaminhem para psiquiatras. Seu nome vale muito mais que
resultados eternamente insatisfatórios para o paciente, afinal estes pacientes acabam
não ficando satisfeitos com tratamento algum (uma vez que o problema está em
sua própria auto-aceitação, e não no tratamento), e que acabam gerando uma
série de denúncias infundadas contra estes profissionais, a quem acabam por
culpar por não terem atingido a estética que idealizaram para si.
Algumas questões podem ser
levantadas durante o atendimento de um paciente suspeito de ser portador de
dismorfofobia:
1.Foi identificado algum
"problema" ou alteração excessiva e psicológica com a autoimagem? O
cirurgião pode tratá-lo?
2.O paciente é
manejável? O médico gostaria de tê-lo no consultório, fazê-lo feliz, sem
problemas futuros?
3.Caso haja alguma complicação, o paciente cooperará?
4.O paciente entende a desnecessidade de tal procedimento na região mencionada e a margem de erro inerente ao procedimento?
Com base nestas respostas, o cirurgião plástico poderá
inferir o tipo de paciente que estará abordando, mas vale lembrar que o
diagnóstico, muitas vezes, pode passar despercebido, caso o médico se volte
apenas para a alteração corporal do paciente, sem dar ênfase adequada a um
exame clínico e psicológico adequado.
Os
psiquiatras têm várias ferramentas para identificar a dismorfofobia, mas leva
tempo até que se tenha o diagnóstico, e por isso é inviável utilizá-las nas
clínicas dos cirurgiões plásticos na preparação pré-operatória.
É comum o paciente de
TDC ter outras doenças psiquiátricas, como Depressão ou Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC), que podem mascarar o diagnóstico.
De acordo com uma
pesquisa do Programa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, 12%
dos pacientes de TOC sofrem também de TDC. A pessoa adota comportamentos como
checar o defeito no espelho compulsivamente e faz o que chamamos de camuflagem,
ao tentar disfarçá-lo.
O Manual de Diagnóstico e
Estatística das Desordens Mentais IV (DSMV-IV) enquadra a doença como sendo um
transtorno do espectro obsessivo compulsivo, assim como a bulimia e a anorexia.
De acordo com o DSM-IV (Diagnostic Statistic Manual of Mental Disorders), os
critérios necessários para diagnosticar a dismorfofobia são:
(A) Preocupação com um defeito imaginário na
aparência ou, se na presença de uma anomalia física mínima, o paciente
apresenta excesso de preocupação;
(B) Se a preocupação motiva
perturbação ou prejuízo significativo no funcionamento das áreas social,
ocupacional ou em outras áreas importantes;
(C) A preocupação não é tão bem
explicada por outro transtorno mental, como, por exemplo, na anorexia .
O diagnóstico baseia-se na consulta clínica, pois a grande parte destes pacientes apresentam-se ansiosas, perfeccionistas, com baixa autoestima e introvertidas, e suas queixas mudam ao longo do tempo. O medo de se ver diminuída diante dos demais, ser ridícula e, portanto, ser possível vítima de riso e escárnio dos outros, provoca uma série de comportamentos de solidão, preferindo estar sempre só.
Esse transtorno pode associar-se a
outras doenças, tais como transtorno ansioso e depressivo e fobias (síndrome do
pânico).
Os casos mais graves podem levar à
incapacidade funcional progressiva e ao isolamento social, como abandonar a
escola, deixar o emprego ou até mesmo deixar de sair de casa.
Estudos sugerem que até 80% das pessoas
com esse transtorno são mais propensas ao suicídio que a população em geral.
Comportamentos frequentes são
observados nestes pacientes, como:
*Comparar a sua parte feia com a
dos outros;
*Pensar diariamente e por horas na
deformidade, deixando que os pensamentos dominem suas vidas;
*Não tirar fotografias;
*Usar roupa, chapéu e maquiagem
excessiva para camuflar a imperfeição;
*Utilizar as mãos ou uma postura
para esconder o defeito;
*Cumprir rituais elaborados para
tratar da aparência;
*Pesquisar excessivamente sobre a
parte do corpo "imperfeita"; *Procurar cirurgia ou tratamento médico
apesar das recomendações contrárias;
*Procurar confirmação acerca do
defeito ou tentar convencer os outros de que é anormal;
*Evitar eventos sociais em que a
imperfeição pode ser notada;
*Sentir fobia social por causa do
defeito;
*Se isolar socialmente;
*Apresentar introversão, falta de comunicação familiar, maneira inadequada de lidar com as
emoções e baixa autoestima.
A
anorexia é uma disfuncão
alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar
(caracterizando em baixo peso corporal) e estresse físico.
A
anorexia é uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos,
fisiológicos e sociais.
Uma
pessoa anoréxica pode ser também bulímica.
A
anorexia afeta primariamente adolescentes do sexo feminino e jovens mulheres do
Hemisfério Ocidental, mas também afeta alguns rapazes.
No
caso dos jovens adolescentes de ambos os sexos, poderá estar ligada a problemas
de auto-imagem, dismorfia, dificuldade em ser aceito pelo grupo, ou em lidar
com a sexualidade genital emergente, especialmente se houver um quadro
neurótico (particularmente do tipo obsessivo-compulsivo), história de abuso sexual ou de
bullying.
A
taxa de mortalidade da anorexia é de aproximadamente 10%, uma das maiores entre
qualquer transtorno psicológico.
Os
principais sintomas da anorexia são:
·
Peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
· Prática
excessiva de atividades físicas, mesmo tendo um peso abaixo do normal (comumente,
anoréxicos vêem peso onde não existe, ou seja, o anorético pensa que tem um
peso acima do normal).
·
Em mulheres, ausência de ao menos três ou mais menstruações. A anorexia pode
causar sérios danos ao sistema reprodutor feminino.
· Diminuição
ou ausência da libido; nos rapazes poderá ocorrer disfunção erétil e
dificuldade em atingir a maturação sexual completa, tanto a nível físico como
emocional.
· Crescimento
retardado ou até cessamento do mesmo, com a resultante de má formação do
esqueleto (pernas e braços curtos em relação ao tronco).
· Descalcificação
dos dentes, cárie dentaria.
· Depressão
profunda.
·
Bulimia, que pode desenvolver-se posteriormente em pessoas anoréxicas.
· Tendências
suicidas. A anorexia possui um índice de mortalidade entre 15 a 20%, o maior
entre os transtornos psicológicos, geralmente matando por ataque cardíaco,
devido à falta de potássio ou sódio (que ajudam a controlar o ritmo normal do
coração).
A
bulimia é um transtorno alimentar onde
as principais características são os episódios de compulsão alimentar seguidos
de comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso.
Na
sua maioria os pacientes com bulimia estão dentro da faixa de peso normal,
embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo deste.
A
bulimia apresenta uma prevalência no sexo feminino, 90 a 95%.
A
doença se manifesta mais tarde do que na anorexia, por volta dos 18 a 20
anos.
Os
episódios de compulsão consistem no consumo de uma grande quantidade de
alimentos ricos em calorias.
Os
episódios de compulsão alimentar e compensatórios ocorrem em segredo, por isso
raramente são presenciados por outras pessoas.
O
"gatilho" das compulsões na bulimia, pode incluir depressão,
dificuldades nos relacionamentos interpessoais, aborrecimentos, dietas
restritivas e/ou prolongadas, e insatisfação e/ou distorção da imagem
corporal.
A
compulsão alimentar "camufla" temporariamente os sentimentos
negativos, mas este estado é rapidamente seguido por sentimentos de culpa.
A
bulimica sente vergonha dos seus ataques de compulsão "Existe alguma coisa
"errada" comigo, sou "imperfeita", porque não consigo me
controlar".
É
difícil para alguém que sinta desta forma procurar ajuda. Daí o prazo, e a
demora de até dez anos, para que uma pessoa que sofra de bulimia busque ajuda.
Os
comportamentos compensatórios são uma forma de "conter" os efeitos ( o
aumento de peso) das crises de compulsão.
O
comportamento compensatório mais comum são os vômitos auto-induzidos que são provocados
seguidamente aos episódios de compulsão.
Os
vômitos são provocados seguidamente aos episódios de compulsão.
Alguns
pacientes podem chegar a vomitar até 20 vezes por dia.
Os
vômitos se tornam tão "comuns" que pacientes se tornam capazes
de vomitar quando querem. O ato de purgar reduz temporariamente o desconforto
físico causado pela sensação de "estufamento" gástrico, além de
amenizar o medo de ganhar peso pelas crises compulsivas.
Outros
comportamentos compensatórios utilizados para "prevenir" o ganho de
peso são o uso abusivo de laxantes, diuréticos, dietas restritivas, jejuns, medicamentos
e "formulas" anorexígenos, e a prática exagerada de exercícios.
A "necessidade"
de se exercitar chega a interferir de modo significativo nas atividades
pessoais e profissionais da pessoa. O paciente pode dar preferência a pratica
de atividade física em detrimento de encontros sociais e/ou
profissionais.
Outra variação do transtorno, que atinge com maior
impacto o público masculino, é a Vigorexia,
ou Transtorno Dismórfico Muscular (TDM).
Trata-se da compulsão por um
físico forte, atividades físicas, além da distorção da própria imagem corporal.
Segundo uma pesquisa,
entre frequentadores de academia, 30% dos homens e 29% das mulheres têm
suspeita do transtorno.
A pesquisadora afirma
que os pacientes de TDM apresentaram humor depressivo, timidez, insegurança em
relação ao seu desempenho físico e mental, dificuldade de socialização e busca
descontrolada por uma forma física idealizada.
No começo do quadro, o
transtorno não traz tanto sofrimento. Conforme a compulsão aumenta, a pessoa
deixa de realizar atividades cotidianas e manter relações sociais.
Em longo
prazo, o portador fica ansioso e sofre de depressão.
Para piorar, os
vigoréxicos tendem a abusar de suplementos alimentares e anabolizantes. Entre
as mulheres, 35% usavam, e assim como 58% dos homens.
Outro transtorno que se
manifesta pela insatisfação com a aparência é a Tanorexia, em que a compulsão é por estar cada vez mais bronzeado.
Quem sofre dela,
acredita que está inaceitavelmente pálido e procura recursos como bronzeamento
solar ou artificial para deixar a pele dourada, sem perceber que, na verdade,
aparenta um alaranjado nada saudável.
Além do sofrimento
psicológico constante, a alta exposição a raios UV aumenta os riscos de câncer
de pele.
Tratamento:
O tratamento para
transtornos dismórficos envolve antidepressivos e terapia. A combinação de medicamento que ajuda a diminuir os
sintomas da depressão, com psicoterapia, que aumenta a segurança e a confiança
juntos, ajudam o paciente a dominar a obsessão e a ansiedade relacionadas com a
aparência.
Na terapia cognitivo
comportamental, o paciente é orientado a aprender a se expor a situações onde
ele seria julgado pelo suposto defeito e a evitar fazer os rituais, como a
camuflagem e a checagem no espelho.
A medicação ajuda a
melhorar a crítica em relação aos sintomas. Eles começam a reconhecer que o
defeito não é tão perceptível como eles acham.
Não há cura definitiva,
mas manter o TDC sob controle pelo resto da vida traz de volta o prazer da
vaidade.
O
tratamento é bastante difícil, pois grande parte dos pacientes não se aceita
portador destes diagnósticos.
A
maioria justifica-se como sendo "vaidosa" e classifica-se
positivamente quanto a cuidar da aparência.
No
entanto, para o paciente, a dismorfofobia é fonte de grande sofrimento e
angústia com sua aparência própria.
O
tratamento consiste em psicoterapia, longa e trabalhosa, e muitas vezes é
necessário o uso de medicamentos para apoio dos sentimentos depressivos que
acompanham o quadro.
Especialistas acreditam que somente 10% dos dismórficos
recebam tratamento adequado.
Com os antidepressivos, os pacientes conseguem diminuir a preocupação, o incômodo e os rituais comportamentais, e ocorre significativa melhora no comportamento social e ocupacional. E embora a deformidade ainda seja notada (porque nunca deixa de existir), esta causará menor incômodo.
A cirurgia não traz benefícios neste grupo de pacientes, estando contraindicada, uma vez que, devido à distorção da imagem, o mais belo resultado ainda ficará bem aquém de suas expectativas, que são, na verdade, insuperáveis.
Casos Conhecidos de Dismorfofobia
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