quarta-feira, 14 de junho de 2017

Transtorno Dirmórfico Corporal


Para algumas pessoas, olhar-se no espelho é quase uma tortura.
Mais do que estarem insatisfeitas com a própria imagem, essas pessoas passam horas pensando na própria aparência, sofrendo com a autoimagem e procurando soluções para mudar o que as incomoda.

A angústia é permanente e a vontade de se esconder substitui a de ser visto. E apesar das tentativas, nenhum procedimento cirúrgico ou estético é capaz de sanar essa doença social. 


Desde a revolução sexual nos anos 70, o corpo é cada vez mais responsável pela identidade da pessoa. As pessoas chegam com uma ‘lista’ de defeitos para corrigir. Até que ponto isto está de fato melhorando algo em alguém?. Buscar a correção de fatores estéticos e marcas do tempo através de uma cirurgia plástica é normal. No entanto, quando a pessoa começa a querer fazer uma cirurgia plástica atrás da outra e nunca estar feliz com a aparência pode ser sinal de doença.

Esse vício da beleza, esconde uma doença psiquiátrica séria, diagnosticada como "Transtorno Dismórfico Corporal" (TDC). A doença, também é conhecida como dismorfofobia, doença da beleza, síndrome da distorção da imagem, hipervalorização estética, globalização da beleza e padronização das formas. Consiste em uma preocupação exagerada e fora do normal com a reparação de um defeito, na maioria das vezes imaginário.
É um transtorno psiquiátrico e o diagnóstico é muito difícil, embora conhecido, é pouco debatido entre os médicos.

O termo 'dismorfofobia' é uma palavra grega que significa feiura, especialmente na face, utilizado por Morselli, pela primeira vez, há cem anos; porém, sua primeira referência aparece na história de Herodotus, no mito da garota feia de Esparta, que era levada pela sua família, todos os dias, ao templo para se livrar da sua falta de beleza e atrativos.


Pesquisas recentes mostram que, para tentar aliviar a eterna insatisfação com a imagem, a população mais vulnerável à enfermidade recorre cada vez mais a procedimentos estéticos ou cirúrgicos, sem fim.
Resolvido um “problema”, elas tendem a se concentrar em outro aspecto de sua aparência, algo que acaba levando essas pessoas a se submeterem a vários procedimentos para corrigir “imperfeições”.

O primeiro indício ocorre normalmente no começo da adolescência e se estende até aproximadamente os 20 anos, porque neste período é que vários problemas em relação ao desenvolvimento facial e corporal ocorrem.


Um estudo descobriu que nos estágios iniciais da doença, 15% dos pacientes de cosmiatria (tratamentos dermatológicos e estéticos) tinham a doença, assim como 7% dos de dermatologia, e a evolução deste estágio é com a procura por algo mais invasivo, as cirurgias plásticas.

As manifestações variam conforme o gênero, e a preocupação pode envolver qualquer região do corpo. Na mulher, geralmente é face (acne, tamanho do nariz, cicatriz, excesso de pêlo, orelhas, queixo e mandíbula), cabelo, dentes, mamas e nádegas. Para homens, rosto (acne), calvície, dentes, genitais e músculos. Podem se sentir incomodados com uma região ou também várias partes ao mesmo tempo.


O dado mais alarmante é que mais de 90% das pessoas com esse transtorno nunca ficam satisfeitas com os resultados.

Estima-se que 3 a 15% das pessoas com grande preocupação com a aparência e que buscam tratamentos estéticos, dentários e cirurgia plástica têm TDC.

Diagnóstico:

Dos primeiros sintomas até o diagnóstico podem transcorrer entre nove e doze anos. A pessoa passa horas presa na frente do espelho, sem diagnóstico. O limite entre a implicância com um defeito e o diagnóstico é tênue.

O ideal é diagnosticar as pessoas com TDC em um estágio inicial da doença, porque o tratamento é mais fácil. Antes que todos esses pensamentos e ansiedades cheguem à sua mente.

O diagnóstico pode ser um desafio, pois na sociedade atual os sintomas são semelhantes a uma vaidade excessiva.

Uso exagerado de cosméticos para disfarçar imperfeições, cuidados exagerados com os cabelos, dietas inconsequentes, bulimia, anorexia, exercícios exagerados, uso de roupas que escondem o corpo e cirurgias plásticas em excesso são algumas das características destes pacientes.

Sua causa é bastante discutível. Pode ser gerada por uma baixa auto-estima, pode ser decorrente de uma infância deficiente de carinho e de aprovação, levando a uma autocrítica destrutiva (reflexo de crítica excessiva dos pais ou pessoas próximas), de sentimentos de abandono, ou mesmo por causas orgânicas, agravados pela grande exibição de figuras humanas padronizadas pelos meios de comunicação.

Com as perguntas adequadas, é possível que o cirurgião plástico obtenha um “sexto sentido” para identificar que algo não está bem, e nesses casos, é melhor que não operem e encaminhem para psiquiatras. Seu nome vale muito mais que resultados eternamente insatisfatórios para o paciente, afinal estes pacientes acabam não ficando satisfeitos com tratamento algum (uma vez que o problema está em sua própria auto-aceitação, e não no tratamento), e que acabam gerando uma série de denúncias infundadas contra estes profissionais, a quem acabam por culpar por não terem atingido a estética que idealizaram para si.


Algumas questões podem ser levantadas durante o atendimento de um paciente suspeito de ser portador de dismorfofobia:

1.Foi identificado algum "problema" ou alteração excessiva e psicológica com a autoimagem? O cirurgião pode tratá-lo?

2.O paciente é manejável? O médico gostaria de tê-lo no consultório, fazê-lo feliz, sem problemas futuros?

3.Caso haja alguma complicação, o paciente cooperará?

4.O paciente entende a desnecessidade de tal procedimento na região mencionada e a margem de erro inerente ao procedimento?

Com base nestas respostas, o cirurgião plástico poderá inferir o tipo de paciente que estará abordando, mas vale lembrar que o diagnóstico, muitas vezes, pode passar despercebido, caso o médico se volte apenas para a alteração corporal do paciente, sem dar ênfase adequada a um exame clínico e psicológico adequado.


Os psiquiatras têm várias ferramentas para identificar a dismorfofobia, mas leva tempo até que se tenha o diagnóstico, e por isso é inviável utilizá-las nas clínicas dos cirurgiões plásticos na preparação pré-operatória.

É comum o paciente de TDC ter outras doenças psiquiátricas, como Depressão ou Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que podem mascarar o diagnóstico.

De acordo com uma pesquisa do Programa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, 12% dos pacientes de TOC sofrem também de TDC. A pessoa adota comportamentos como checar o defeito no espelho compulsivamente e faz o que chamamos de camuflagem, ao tentar disfarçá-lo.

O Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais IV (DSMV-IV) enquadra a doença como sendo um transtorno do espectro obsessivo compulsivo, assim como a bulimia e a anorexia.


De acordo com o DSM-IV (Diagnostic Statistic Manual of Mental Disorders), os critérios necessários para diagnosticar a dismorfofobia são:

(A) Preocupação com um defeito imaginário na aparência ou, se na presença de uma anomalia física mínima, o paciente apresenta excesso de preocupação;
(B) Se a preocupação motiva perturbação ou prejuízo significativo no funcionamento das áreas social, ocupacional ou em outras áreas importantes;
(C) A preocupação não é tão bem explicada por outro transtorno mental, como, por exemplo, na anorexia .

O diagnóstico baseia-se na consulta clínica, pois a grande parte destes pacientes apresentam-se ansiosas, perfeccionistas, com baixa autoestima e introvertidas, e suas queixas mudam ao longo do tempo.
O medo de se ver diminuída diante dos demais, ser ridícula e, portanto, ser possível vítima de riso e escárnio dos outros, provoca uma série de comportamentos de solidão, preferindo estar sempre só.
Esse transtorno pode associar-se a outras doenças, tais como transtorno ansioso e depressivo e fobias (síndrome do pânico).
Os casos mais graves podem levar à incapacidade funcional progressiva e ao isolamento social, como abandonar a escola, deixar o emprego ou até mesmo deixar de sair de casa.


Estudos sugerem que até 80% das pessoas com esse transtorno são mais propensas ao suicídio que a população em geral.

Comportamentos frequentes são observados nestes pacientes, como:

*Comparar a sua parte feia com a dos outros;
*Pensar diariamente e por horas na deformidade, deixando que os pensamentos dominem suas vidas;
*Não tirar fotografias;
*Usar roupa, chapéu e maquiagem excessiva para camuflar a imperfeição;
*Utilizar as mãos ou uma postura para esconder o defeito;
*Cumprir rituais elaborados para tratar da aparência;
*Pesquisar excessivamente sobre a parte do corpo "imperfeita"; *Procurar cirurgia ou tratamento médico apesar das recomendações contrárias;
*Procurar confirmação acerca do defeito ou tentar convencer os outros de que é anormal;
*Evitar eventos sociais em que a imperfeição pode ser notada;
*Sentir fobia social por causa do defeito;
*Se isolar socialmente;
*Apresentar introversão, falta de comunicação familiar, maneira inadequada de lidar com as emoções e baixa autoestima.

A anorexia  é uma disfuncão alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar (caracterizando em baixo peso corporal) e estresse físico.
A anorexia é uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais.
Uma pessoa anoréxica pode ser também bulímica.
A anorexia afeta primariamente adolescentes do sexo feminino e jovens mulheres do Hemisfério Ocidental, mas também afeta alguns rapazes.
No caso dos jovens adolescentes de ambos os sexos, poderá estar ligada a problemas de auto-imagem, dismorfia, dificuldade em ser aceito pelo grupo, ou em lidar com a sexualidade genital emergente, especialmente se houver um quadro neurótico (particularmente do tipo obsessivo-compulsivo),  história de abuso sexual  ou de bullying.
A taxa de mortalidade da anorexia é de aproximadamente 10%, uma das maiores entre qualquer transtorno psicológico.

Os principais sintomas da anorexia são:

· Peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
· Prática excessiva de atividades físicas, mesmo tendo um peso abaixo do normal (comumente, anoréxicos vêem peso onde não existe, ou seja, o anorético pensa que tem um peso acima do normal).
· Em mulheres, ausência de ao menos três ou mais menstruações. A anorexia pode causar sérios danos ao sistema reprodutor feminino.
· Diminuição ou ausência da libido; nos rapazes poderá ocorrer disfunção erétil e dificuldade em atingir a maturação sexual completa, tanto a nível físico como emocional.
· Crescimento retardado ou até cessamento do mesmo, com a resultante de má formação do esqueleto (pernas e braços curtos em relação ao tronco).
· Descalcificação dos dentes, cárie dentaria.
· Depressão profunda.
· Bulimia, que pode desenvolver-se posteriormente em pessoas anoréxicas.
· Tendências suicidas. A anorexia possui um índice de mortalidade entre 15 a 20%, o maior entre os transtornos psicológicos, geralmente matando por ataque cardíaco, devido à falta de potássio ou sódio (que ajudam a controlar o ritmo normal do coração).


A bulimia é um transtorno alimentar onde as principais características são os episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso.
Na sua maioria os pacientes com bulimia estão dentro da faixa de peso normal, embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo deste.
A bulimia apresenta uma prevalência no sexo feminino, 90 a 95%.
A doença se manifesta  mais tarde do que na anorexia, por volta dos 18 a 20 anos.
Os episódios de compulsão consistem no consumo de uma grande quantidade de alimentos ricos em calorias.
Os episódios de compulsão alimentar e compensatórios ocorrem em segredo, por isso raramente são presenciados por outras pessoas.
O "gatilho" das compulsões na bulimia, pode incluir depressão, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, aborrecimentos, dietas restritivas e/ou prolongadas, e insatisfação e/ou distorção da imagem corporal.
A compulsão alimentar "camufla" temporariamente os sentimentos negativos, mas este estado é rapidamente seguido por sentimentos de culpa.
A bulimica sente vergonha dos seus ataques de compulsão "Existe alguma coisa "errada" comigo, sou "imperfeita", porque não consigo me controlar".
É difícil para alguém que sinta desta forma procurar ajuda. Daí o prazo, e a demora de até dez anos, para que uma pessoa que sofra de bulimia busque ajuda.
Os comportamentos compensatórios são uma forma de "conter" os efeitos ( o aumento de peso) das crises de compulsão.
O comportamento compensatório mais comum são os vômitos auto-induzidos que são provocados seguidamente  aos episódios de compulsão.
Os vômitos são provocados seguidamente  aos episódios de compulsão.
Alguns pacientes podem chegar a vomitar até 20 vezes por dia.
Os vômitos se tornam tão "comuns" que  pacientes se tornam capazes de vomitar quando querem. O ato de purgar reduz temporariamente o desconforto físico causado pela sensação de "estufamento"  gástrico, além de amenizar o medo de ganhar peso pelas crises compulsivas.
Outros comportamentos compensatórios utilizados para "prevenir" o ganho de peso são o uso abusivo de laxantes, diuréticos, dietas restritivas, jejuns, medicamentos e "formulas" anorexígenos, e a prática exagerada de exercícios.
A "necessidade" de se exercitar chega a interferir de modo significativo nas atividades pessoais e profissionais da pessoa. O paciente pode dar preferência a pratica de atividade física em detrimento de encontros sociais e/ou profissionais. 


Outra variação do transtorno, que atinge com maior impacto o público masculino, é a Vigorexia, ou Transtorno Dismórfico Muscular (TDM). 
Trata-se da compulsão por um físico forte, atividades físicas, além da distorção da própria imagem corporal.

Segundo uma pesquisa, entre frequentadores de academia, 30% dos homens e 29% das mulheres têm suspeita do transtorno.

A pesquisadora afirma que os pacientes de TDM apresentaram humor depressivo, timidez, insegurança em relação ao seu desempenho físico e mental, dificuldade de socialização e busca descontrolada por uma forma física idealizada.

No começo do quadro, o transtorno não traz tanto sofrimento. Conforme a compulsão aumenta, a pessoa deixa de realizar atividades cotidianas e manter relações sociais. 
Em longo prazo, o portador fica ansioso e sofre de depressão.
Para piorar, os vigoréxicos tendem a abusar de suplementos alimentares e anabolizantes. Entre as mulheres, 35% usavam, e assim como 58% dos homens.



Outro transtorno que se manifesta pela insatisfação com a aparência é a Tanorexia, em que a compulsão é por estar cada vez mais bronzeado.

Quem sofre dela, acredita que está inaceitavelmente pálido e procura recursos como bronzeamento solar ou artificial para deixar a pele dourada, sem perceber que, na verdade, aparenta um alaranjado nada saudável.

Além do sofrimento psicológico constante, a alta exposição a raios UV aumenta os riscos de câncer de pele. 


Tratamento:

O tratamento para transtornos dismórficos envolve antidepressivos e terapia. A combinação de medicamento que ajuda a diminuir os sintomas da depressão, com psicoterapia, que aumenta a segurança e a confiança juntos, ajudam o paciente a dominar a obsessão e a ansiedade relacionadas com a aparência.

Na terapia cognitivo comportamental, o paciente é orientado a aprender a se expor a situações onde ele seria julgado pelo suposto defeito e a evitar fazer os rituais, como a camuflagem e a checagem no espelho.

A medicação ajuda a melhorar a crítica em relação aos sintomas. Eles começam a reconhecer que o defeito não é tão perceptível como eles acham.

Não há cura definitiva, mas manter o TDC sob controle pelo resto da vida traz de volta o prazer da vaidade.

O tratamento é bastante difícil, pois grande parte dos pacientes não se aceita portador destes diagnósticos.
A maioria justifica-se como sendo "vaidosa" e classifica-se positivamente quanto a cuidar da aparência.
No entanto, para o paciente, a dismorfofobia é fonte de grande sofrimento e angústia com sua aparência própria.

O tratamento consiste em psicoterapia, longa e trabalhosa, e muitas vezes é necessário o uso de medicamentos para apoio dos sentimentos depressivos que acompanham o quadro.

Especialistas acreditam que somente 10% dos dismórficos recebam tratamento adequado.

Com os antidepressivos, os pacientes conseguem diminuir a preocupação, o incômodo e os rituais comportamentais, e ocorre significativa melhora no comportamento social e ocupacional. E embora a deformidade ainda seja notada (porque nunca deixa de existir), esta causará menor incômodo.

A cirurgia não traz benefícios neste grupo de pacientes, estando contraindicada, uma vez que, devido à distorção da imagem, o mais belo resultado ainda ficará bem aquém de suas expectativas, que são, na verdade, insuperáveis.

Casos Conhecidos de Dismorfofobia






Nenhum comentário:

Postar um comentário