sábado, 18 de novembro de 2017

A História das Feridas




A HISTÓRIA DAS FERIDAS

Para que possamos atuar, não basta apenas conhecermos os novos produtos disponíveis nesta área ou as últimas descobertas científicas, é preciso conhecer o passado para que possamos criar um futuro de uma forma mais concreta e precisa. E para que possamos ilustrar esta evolução vamos apresentar, sistematicamente, algumas práticas naturais que, há vários milênios, vêm sendo utilizadas e que, muitas delas foram incorporadas há muitas tecnologias descobertas.

 A HISTÓRIA NO TRATAMENTO DE FERIDAS

Os homens da pré-história utilizam plantas e seus extratos como cataplasmas, para estancar hemorragias e umidificar as feridas abertas. Sendo a Cataplasma um emplasto de substâncias preparadas com linhaça, massa de argila, farinha de mandioca ou fubá colocada entre dois panos, com capacidade de absorção das toxinas da pele e para tratar hematomas.

Por volta de 2700 a.C. os egípcios utilizavam produtos que, hoje, denominamos “Fármacos da sujeira”, esses produtos eram derivados de produtos aparentemente absurdos como urina humana e outros, associados às orações e sacrifícios. Os médicos egípcios acreditavam que quanto mais a ferida supurava, mais rápida era a cicatrização.
Foram os precursores do adesivo atual, com a descoberta da ligadura adesiva, que consistia em tiras de linho impregnado de goma.

Os chineses em 2800 a.C. foram os primeiros a relatar o uso do mercúrio, os mexicanos e peruanos utilizavam o Mactellu como anti-sépticos para feridas.

Quando falamos da civilização Grega, chegamos ao clássico A Ilíada, escrita por Homero (800 a.C) que descreve o tratamento de 147 feridos militares utilizando práticas de cauterização de feridas com ferro quente. Nessa época a taxa de mortalidade era bastante elevada.

Na era Cristã, Celsius (200 d.C): classificou tipos de ferida, definiu tratamentos, descreveu os sinais inflamatórios, técnicas de desbridamento e sutura.

No período medieval, Galeno (século II d.), que era médico do grande imperador Marco Aurélio, instaurou a teoria da secreção purulenta. Nessa teoria acreditava-se que a formação da secreção era fundamental para a cicatrização.

Usava na sua terapêutica:
• Água do mar, do mel, tinta de caneta e barro.
• As lesões ulceradas eram ligadas com figos (que contêm Papaína);
• Teia de aranha.

Já os médicos árabes foram os inventores da ligadura de gesso. 
Chegando a era do Misticismo, temos a Teoria dos Miasmas, nesta teoria os corpos deviam ser incinerados e após, deveria ser feita à defumação do local com incenso. A igreja contribuiu, e muito, para a divulgação dessa teoria e proibiu a dissecação e métodos cirúrgicos impedindo a evolução das técnicas. Já Teodorico de Lucca e Henri de Mondeville utilizaram pensos embebidos em arnica e vinho (ação anti-séptica). E observaram que havia diminuição da formação de secreção e aumento da cicatrização.

Ao relembrarmos a história do tratamento de feridas não podemos nos esquecer de Hipócrates (300 a.C), considerado o pai da medicina moderna que foi o primeiro a implementar os princípios da assepsia, no tratamento das feridas.
Não acreditava que a formação de pus fosse essencial para a cicatrização (teoria que existiu por séculos) e quando a ferida infeccionava, utilizava emplastos para drenagem de secreção e que estas deveriam ser lavadas e limpas. Fez uso de ervas medicinais, mel, leite e vinagre. Aconselhava debridamentos e cauterizações.

Avançando ainda mais na história, chegamos à Revolução industrial, marco da história mundial. No século XVIII, alguns prisioneiros se dedicavam à confecção de pensos. Estes eram feitos de trapos velhos, estopa de linho e corda velha desfiada. Os pensos eram utilizados e depois lavados e reutilizados, já que este processo tornava-os mais macios e absorventes.

Com a revolução industrial aconteceu a mecanização deste processo de confecção.
Infelizmente, com a evolução dos tempos começaram as guerras locais e mundiais.
Com a guerra da Criméia deu-se a introdução da pólvora no mundo ocidental. As feridas causadas por pólvora eram venenosas e era necessária a remoção da parte lesada (amputação) e para cauterizar o coto era utilizado óleo fervente.
Entretanto, nessa época houve uma grande escassez de óleo, o que possibilitou a substituição por gema de ovo e óleo de rosa, o que aumentou a taxa de sobrevida da população.

A EVOLUÇÃO NO TRATAMENTO DAS FERIDAS

A partir deste século várias descobertas favoreceram para a melhoria do tratamento das feridas. Destacamos, brevemente, algumas evoluções principais que impeliram as novas descobertas atuais neste campo.

• 1676 = descoberta do microscópio;

• 1752 = primeiro passo na desinfecção química, por John Pringle, com o uso de ácidos minerais para prevenir e impedir a putrefação.

 • 1860 (Gangee) = 1º curativo absorvente a base de algodão;

• Em 1862, Pasteur concluiu que a putrefação era resultante da fermentação causada pelo crescimento dos microorganismos. Descobriu, ainda, que eles eram destruídos pela ação do calor. Apontou a falta de limpeza como causa da infecção, e que as pessoas que tratavam as feridas eram meio de transporte para esses microorganismos.

• Em 1880 = foi construída com êxito a primeira estufa, vindo permitir a esterilização pelo calor seco. Dois anos mais tarde surgiu a esterilização pelo vapor.

• No final de 1840: Deu-se a utilização de anti-sépticos e a proteção da lesão com coberturas secas. Foi nesta fase que se descobriu o efeito anti-séptico do Iodo, Mercúrio e Alumínio, além da utilização do meio seco.

• Luvas e máscaras foram introduzidas em 1890 e 1897, por Willian Hastelde Johann Miculizz.

• 1945: Bloom relata pela primeira vez o uso do filme transparente permeável ao vapor.

• Após 1960 = descobertos os princípios de leito úmido e limpo para acelerara cicatrização. Entre outras descobertas como: limpeza da ferida, aproximação bordas através da sutura, controle da infecção. Sendo descobertas do antibiótico um dos maiores feitos desta época.

• A partir de 1980 estudos em larga escala começaram a ser realizados nos Estados Unidos e em vários países da Europa, visando o aperfeiçoamento das técnicas para realização dos curativos.

• Em 1982 as coberturas a base de Hidrocolóides são lançadas nos EUA e Europa, porém somente em 1990 chegaram ao Brasil com elevado custo dificultando o seu uso pela população brasileira. Apesar de todos estes avanços de tecnologias, produtos e técnicas para o desenvolvimento do tratamento de feridas, a incidência das úlceras crônicas em nosso meio ainda é bastante elevada. E embora várias descobertas já tenham sido feitas ainda existem muito a ser pesquisados e vários mitos a serem quebrados para aperfeiçoar estes recursos. 




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