segunda-feira, 5 de março de 2018

Lobuloplastia


Esse procedimento corresponde à correção cirúrgica do lóbulo da orelha alargada ou rasgada.

O lóbulo da orelha é a porção mais inferior da orelha. É formado de um tecido fibroadiposo e é desprovido de cartilagem.




Como não apresenta cartilagem como o restante da orelha, o lóbulo pode facilmente alargar, romper ou rasgar, dando origem a situação clínica denominada lóbulo alargado, lóbulo com rompimento parcial (quando está presente a fenda, porém sem divisão) e lóbulo com rompimento total ou bífido (quando está presente a fenda, com separação total da fenda).

A causa mais comum de lóbulo rasgado, bífido ou alargado, é devido o uso de brincos muito pesados, traumas ou mesmo por uso de alargadores.




Na atualidade, um motivo de consulta habitual, é devido a intenção de reparar as deformidades residuais ocorridas no lóbulo da orelha.

Outro fator a ser considerado como necessidade de reparação, é que o lóbulo da orelha é uma região importantíssima na composição estética da orelha, e pela sua posição, entre as estruturas da face, também é importante na harmonia facial. Com a prática do uso de brincos, ocupa um papel de destaque ainda maior.

Outro fator é a idade, que altera o formato, a largura e o comprimento do lóbulo, em decorrência da flacidez dos tecidos.
Pode ocorrer ainda a perda do volume, tornando-se emagrecido ou “murcho”, além da formação de dobras ou rugas.
A correção do lóbulo envelhecido pode ser realizada isoladamente ou em combinação com a ritidoplastia (lifting facial).

As cicatrizes serão estrategicamente posicionadas, e graças a isso, se tornam pouco aparentes e bastante discretas.

O não tratamento deve ser evitado, pois um lóbulo envelhecido diante de uma face bem tratada causa estranheza, desarmonia facial e “denuncia” a idade real.

Em casos de lóbulos murchos, pode ser necessário o uso de preenchedores, além da cirurgia.




Indicações:

- Fendas por enfraquecimento do tecido devido ao uso de adornos pesados
- Lóbulos rompidos parcial ou totalmente crônicos
- Casos congênitos
- Rasgaduras traumáticas
- Sequela por uso de alargadores ou dilatadores
- Fenda por perda de colágeno e elastina no decorrer da idade.

Anestesia e cirurgia:

Para este procedimento, somente é necessário a anestesia local, podendo também ser realizado em consultório, desde que em ambiente e materiais esterilizados.




A primeira vista, a reparação de um lóbulo parece fácil, porém, muitos cirurgiões não especialistas o reparam sem o conhecimento do comprometimento dos tecidos, e a cicatrização pode não ficar ao agrado do paciente.

A reparação se realiza colocando em prática várias técnicas de cirurgia plástica para procurar alcançar não só um resultado firme e estético, mas também, que permita o uso de um brinco simples, com peso moderado, sem que haja comprometimento ou recidiva.

Dentre as diversas técnicas cirúrgicas, a escolha dependerá do tipo de fenda existente, parcial ou total, garantindo a menor chance de recidiva possível.

As correções de fenda total poderão ser feitas com ou sem a preservação do orifício do brinco. A fixação do lóbulo durante a intervenção é fundamental, não importando a técnica usada, e pode ser improvisada com abaixador de língua, o qual é posicionado sob o lóbulo e segurado pelo cirurgião auxiliar, dando sustentação ao ato cirúrgico.

Portanto, a lobuloplastia põe em prática o conhecimento sobre a cicatrização, o comportamento dos tecidos e a técnica para cada caso cirúrgico em particular.

Tipos de técnicas cirúrgicas para diferentes tipos de fendas:

Reparo do lóbulo da orelha com fenda parcial

São três as técnicas mais usadas para a fenda parcial. As técnicas com Punch, fechamento direto e técnica de Reiter e Alford.

Uma incisão é feita com uso de um bisturí cilíndrico tipo Punch,  um milímetro maior do que a fenda. Este é posicionado perpendicularmente ao lóbulo, e em seu movimento de rotação desepidermiza a fenda, desde a sua face anterior até o lado posterior, ou seja, por toda a sua extensão. Deve-se tracionar a pele pela ponta do lóbulo durante a ação do punch, o que resultará em uma incisão e consequente sutura transversa em relação ao lóbulo. Desta forma, teremos maior segurança em realizar novo orifício e menor probabilidade de recidiva. O mesmo deve ser realizado seis meses após a completa cicatrização.

Pode-se também reparar a fenda parcial utilizando o fechamento direto borda a borda, indicado quando a abertura for maior que 4mm. Inicialmente, a fenda é desepidermizada com bisturi o suficiente para ocorrer cicatrização adequada e prevenir a inversão da cicatriz. Em seguida, sutura-se borda a borda com pontos simples ou de colchoeiro (Donatti ou ponto em U), tanto na parte anterior quanto na posterior, devendo-se ter cuidado para que o ponto não atravesse a extensão da parede do lóbulo. Pode ser feita sutura com fio absorvível no subcutâneo.

A terceira opção para a correção da fenda parcial é a técnica de Reiter e Alford, também chamada de “retalhos opostos paralelos”. Os retalhos criados possuem pedículos junto à borda da fenda, um na parte anterior à direita e outro na parte posterior do lóbulo à esquerda. Os retalhos são rodados como “portas de saloon”, e cada um vai cobrir a área cruenta do outro ao serem suturados, fazendo com que a fenda desapareça.




Reparo do lóbulo da orelha com fenda total

A dificuldade na correção é maior, pois há perda da margem inferior do lóbulo da orelha.

Pode-se optar por manter o orifício inicial ou não. Em ambas as possibilidades, para evitar que ocorra inversão da cicatriz por retração, as técnicas como Z-plastia, L-plastia ou retalho em V, que promovem eversão, são utilizadas para corrigir o aspecto final da cicatriz.


Reparo do lobo da orelha com fenda total sem preservar o orifício
Quando não se deseja preservar o orifício do brinco, a técnica borda a borda ou lado a lado, amplamente difundida, é provavelmente a mais utilizada em nosso meio, sendo de fácil realização. Desde que o novo furo não esteja na linha da cicatriz, a possibilidade de recidiva é pequena.

Consiste em desepidermizar a fenda e fazer um ponto de reparo na extremidade inferior ligando as pontas da fenda, o que orienta as suturas anterior e posterior, evitando também desigualdade no novo contorno do lóbulo. Pontos de colchoeiro verticais (em pé ou pontos em “U”) ou horizontais (deitados ou pontos Donatti), que evertem as bordas da cicatriz, são utilizados para evitar a inversão da mesma.




Porém alguns autores dizem que um fechamento simples, direto ou que tem como resultado um acabamento linear, condena o paciente a uma retração cicatricial posterior muito evidente, com futuros riscos de recidiva ao colocar novamente um brinco, por menor que ele seja, além do risco de deformidades.





Variações foram criadas para evitar a inversão da cicatriz e dar maior consistência à sutura do lóbulo.

Tromovitch et al.  descreveram a zetaplastia realizada na total espessura do lóbulo no seu sentido ântero-posterior. Podemos optar também pela zetaplastia feita apenas na parte anterior do lóbulo, sendo a parte posterior suturada com fechamento direto, técnica descrita por Reiter e Alford.






Reparo do lóbulo da orelha com fenda total preservando o orifício

Na técnica de Pardue  as bordas da fenda são excisadas, e a epiderme da parte superior do orifício de um dos lados é preservada. Cria-se um retalho com esta porção e este é rodado como um caracol em direção ao lado oposto e então suturado com fio de nylon através de ponto interno pela derme da sua extremidade inferior no canto cruento do antigo orifício, formando-se assim um novo orifício. O fechamento das pontas é feito por sutura simples desde a face anterior do lobo até a posterior.




Proposta de nova técnica
Os autores têm executado a técnica, que foi denominada Pardue modificada, com bons resultados, tanto estéticos quanto de sustentação do novo orifício, e sem recidiva.



Confeccionamos o retalho da mesma forma, porém a parte interna do antigo orifício do brinco e a face posterior do retalho são desepidermizados, sendo conservada apenas a pele da porção anterior do retalho.

Ao ser suturado pela derme da extremidade do retalho no ângulo cruento do antigo furo, ele é rodado e ao mesmo tempo torcido; assim a epiderme da face anterior do retalho passa a ser a parte interna do novo orifício, formando um orifício justo e, consequentemente, mais resistente ao apoio do brinco.

Considerações Finais das Técnicas Cirúrgicas

Na escolha da melhor opção para correção do lóbulo de orelha partido, devemos considerar todos os fatores que irão influenciar o resultado final, como tamanho do lóbulo, tipo de fenda (parcial ou completa), número de orifícios já existentes e tendência a cicatrizes inestéticas.
Frente às possibilidades técnicas, optamos por aquela que deixará o lóbulo mais parecido com o original, com forma arredondada e não pontuda, e orifício centrado. O importante é escolher a técnica mais adequada a cada caso e que permita as menores chances de recidiva.
A princípio, as técnicas que não preservam o orifício parecem mais seguras, porém, ao utilizarmos a técnica de Pardue modificada, obtemos, além das vantagens da manutenção do orifício, maior segurança ao apoio do brinco, menor chance de recidiva e ainda aspecto estético satisfatório.

O Pós Operatório

Ao finalizar o procedimento, que leva em torno de 1 hora, é colocado curativos para assegurar o fechamento e a compressão da área suturada.

O procedimento não afeta um pronto retorno ao trabalho, nem a vida social.

O paciente não precisa de medicação para dor, sendo recomendada apenas o uso de uma pomada antibiótica no local.



Os pontos serão retirados por volta de 7 a 10 dias.

Pode-se realizar atividades desportivas depois da retirada dos pontos, desde que a ferida esteja bem cicatrizada.

Deve-se evitar a exposição ao sol por pelo menos 30 dias.

A cicatrização só fica completa depois dos 45 dias a 2 meses, com os cuidados necessários.

Pode usar brincos de pressão por um período de 3 meses, e após esse período, pode-se fazer um novo furo, lembrando de não furar no mesmo lugar da correção, e somente brinco de metal precioso por uns 6 meses.

O resultado definitivo só é considerado entre 6 a 9 meses, quando a cicatriz já está mais clara e praticamente imperceptível.

Não existe um peso padrão para os novos acessórios, pois cada lóbuo é diferente do outro, ou seja, cada qual aceita um peso maior ou menor que outros. Porém, a partir do momento que a pessoa sentir que a orelha está sendo puxada para baixo, é aconselhável trocar o brinco por um mais leve.

Alguns resultados de lobuloplastia:











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